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TORMENTA

Era uma noite de ventania
Quando se dobravam as folhas do Jeribá
E a lua derramava luz prateada por sobre a baía
E seu brilho algo sinistro guardava


De repente te avistei entre as rochas
Caminhavas pela praia deserta sem se importar
Em teus cabelos o reflexo da lua te completava
Flechado nesse momento por minha Diana
Meu coração quedou ferido de amor para sempre


E fui ao teu encontro, atraído por esse olhar
Que pensara ser eu capaz de seduzir pedras
E insano julguei que pudesses ser minha
E te amei desde o primeiro instante
Com a força de mil vendavais


Tu também pra mim sorristes e que feitiço!
Teus dentes alvos, teu olhar de ébano, hipnóticos
Ah! quem me dera o momento sonhado em que não te conhecia
Não tivesse talvez essa tormenta dentro de mim


Quando outro dia amanhece radiante
Lembro mais ainda minha luz que desvanece
E o que ficou foi o quarto escuro e frio
Da falsa calmaria em que perecem os sonhos
                             [que acalentei


J. Sollo

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