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ALUCINAÇÃO

ALUCINAÇÃO


Não sei se é o frio que me invade....
E dói na alma congelando-me a razão
Mas desse mirante deserto não arredo

São dias e noites perscrutando o horizonte
Meus olhos vão cansados, cessou-me a coragem
Partiu meu alento e mais que eu clamasse
Não ouviu nem sua própria  razão

Seus lábios diziam "vou-me agora"
Mas seu olhar moribundo queria ficar
Saiba que te trago em meu sonhar
Sonhos polutos, sem mea-culpa por te desejar

Mas desse templo frio onde nada é real
Meu cabelo em desalinho, diz que não sei mais de mim

Será que após essas tardes modorrentas
Nas quais mal sentia meu sangue a pulsar nas veias
E meu olhar injetado, vidrado mirando somente o nada
Saciar-me-ei das migalhas desse teu amor cão?

E lanço-me  fora desse cemitério que me mantinha
Encontro forças pra romper meus grilhões, sempre fui assim
Não lamento o tempo perdido em que te acalentei a volta
Tirada a borra a macular o sentido, que busco com desespero
  
Na hora que o amante tenta voltar aos braços de sua possuída
Mas que infame angústia; não o deixa fitar seu espelho frio
Alucinado depois que todos os castelos ruíram com estrondo
Restaram os muros a limitar meu desejo de recomeçar.

J. Sollo


*templo frio= a cama onde deita o poeta e inutilmente devaneia
* seu espelho frio= ela não volta e ele não a pode olhar nos olhos

Comentários

Moni Saraiva disse…
Vou me apropriar de um trecho do poeta Enzo Potel pra te escrever:

"Todo muro é uma mentira.
Todo muro é uma coleção de pedras no caminho, para propagar que houve aprendizado."

Lindos versos, poeta...

Abraços!
Luís Santos disse…
Ola poeta, gostei do seu poema! Parabens e abracos!
Lápis-vivo disse…
É muito bom ver que existem poetas escrevendo poemas tão intensos como os teus!

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